Afinal, o que é estilo?

Em termos literais o significado desta palavra poderia ser resumido em “maneira de”. O estilo daquele autor, daquele artista, daquele nadador seria a maneira de ele escrever, de pintar, de nadar. Mas é no vestir que a palavra ganhou vida própria e virou praticamente sinônimo de ser descolado, antenado, elegante ou chique. E, dessa forma, muitos acreditam que se não estão enquadrados nesses termos, estão fadados a não ter estilo. Começa aí a desinformação e um oportunidade perdida de autoconhecimento.

Pois bem, se “estilo” significa o modo como fazemos determinadas coisas, na moda seria a maneira como nos vestimos. Sendo assim, todo mundo tem estilo. Se você escolhe o que veste, você tem estilo. Simples! E o que vai determinar o seu será sua essência, que leva em conta  seus valores, suas preferências, sua identidade. Faça um exercício hoje mesmo. Observe-se no espelho e pense nas escolhas que fez quando se arrumou pela manhã para sair de casa. Entender o seu estilo passa por ter consciência dos porquês.

Ah, e agora vamos abrir um parênteses bem grande para que eu possa registrar, mais uma vez, que não existe isso de 7 estilos universais, ainda que afirmem que somos a mistura de até três deles. Por que motivos insistimos em criar caixinhas e nos enfiamos nelas como verdades absolutas? Eu não tenho ideia do nome do meu estilo. Pode ser confortável com bossa, elegante mais cool, ou qualquer outra dupla ou trio de palavras. Não me interessa. Não vou registrar em cartório. Não precisa de nome. Estilo próprio é antônimo de estereótipo, portanto não estará em nenhuma cartilha ou em testes de revistas de moda.

O estilo é seu e você pode chamá-lo como quiser

Bel, querida, se a sua intenção era ajudar, desculpa, mas só atrapalhou. Estava feliz em saber que eu era esportiva com pitadas criativa e sexy. Vamos lá. Esses nomes usados para denominar os estilos são, na verdade, uns dos tantos universos visuais e dizem respeito às mensagens que cada elemento transmite. Mas não traduzem necessariamente quem é você e/ou como você gostaria de ser percebida. 

Sendo assim, faz mais sentido pensar em estilo como a soma de quem você é (escolhas + valores + identidade) e das suas intenções (como quero me sentir em cada papel que desempenho e como quero ser percebida). O que acontece é que temos dificuldades em equacionar nossas escolhas e nossos objetivos de imagem, pois muitas vezes podem ser conflitantes.

Eu gosto de exemplos. Fica mais fácil da gente visualizar, certo? Pois bem, vamos lá. Júlia é uma executiva de 32 anos, casada, sem filhos. Ela comanda uma equipe de 20 pessoas, a maioria homens e tem contato direto e frequente com o presidente e outros executivos da empresa. Ela é competente e junto com o seu time bate todas as metas. Participa de reuniões, viaja muito a trabalho, atende clientes, fornecedores. É funcionária de uma empresa que tem uma cultura tradicional. Júlia é extrovertida, animada, a última a sair das festas. Treina diariamente e gosta de mostrar o corpo. Nos finais de semana curte uma praia e pratica esportes com o marido. Suas roupas são coloridas, alegres e se não tiver pele à mostra, não é a Julia. Mas de segunda a sexta ela encara a árdua missão de trabalhar por quase 10 horas diárias e precisa transmitir competência, firmeza, seriedade entre outros atributos importantes para o seu sucesso profissional. A saia com fenda que ela usa no final de semana não cabe em seu ambiente de trabalho, tampouco incorporar os looks da Alicia da série The Good Wife está em cogitação. Como resolver essa equação? Como fazer com que a Júlia comunique muito bem quem ela é profissionalmente sem que ela perca sua essência alegre, solar, sensual!

Aqui eu serei bem simplista, já que um resultado ideal é construído com base em muito autoconhecimento e domínio avançado dos códigos que cada peça transmite. Mas só para que vocês entendam, a base de um trabalho bem feito de construção de estilo pessoal leva em conta, como ponto de partida, quem é essa pessoa. Tudo o que diz respeito a valores, gostos, preferências é o que chamamos de essência. É a identidade de cada um. São características genuínas, intrínsecas e intransferíveis. Do outro lado temos que considerar as intenções dessa pessoa. O que deseja alcançar, o propósito, o desejo. E quando a essência bate de frente com a intenção?

É preciso entender os porquês. Você se pergunta os motivos que te levam a escolher uma modelagem ou cor em detrimento de outra? Não vale dizer que é porque gosta e ponto. É muito mais profundo, vai por mim.   Então, se o decote é essencial para a nossa executiva fictícia, mas não é bem vindo no escritório, precisamos entender o porquê dessa escolha e transferir esta sensação para outros elementos. Se o motivo do decote é sentir-se desejada, admirada, mostrar que o corpo está em dia, se sensualidade é um atributo que ela não abre mão, não adianta dizer para a ela vestir um terno preto.

Um scarpin é sensual, a cor vermelha idem, a seda, a nuca aparecendo num coque bem feito, a voz, o cabelo, a atitude. Não precisa estar tudo na roupa. Em contrapartida ela mescla peças estruturadas, cores coloridas, mas escuras, alfaiataria, elementos que garantem a imagem firme que a Júlia precisa transmitir. É uma equação. Tira daqui, coloca dali e chegamos a um estilo único, que abraça sua identidade e suas necessidades de comunicação. Clariou?

Não tem receita, nem fórmula mágica 

Sinto informar, mas é preciso ralar um bocado para construir um estilo próprio. Sim, é construção e processo. Enquanto você for refém das dicas de “como usar” nunca vai parar para pensar nos porquês que citei acima. Vai no bolo, efeito manada. E sabe por que seguimos essas listas? Porque queremos soluções rápidas que simplifiquem a nossa vida. Quem quer correr o risco de errar? Não se preocupe se as suas escolhas estarão certas ou não. Elas precisam fazer sentido para você. 

Claro que contar com a ajuda de um profissional de imagem pessoal facilita e encurta caminhos, mas é possível resolver essa equação sozinha. Autoconhecimento para entender os porquês das suas escolhas, curiosidade para buscar informações e saber comunicar bem suas intenções de imagem. Se precisar de ajuda, grita. Eu estou aqui!